A cooperação entre o ICOM Brasil e a Rede Museologia Kilombola (RMK) é uma relação que vem dando frutos desde abril de 2023. Na Assembleia Geral do Comitê Brasileiro do ano passado, o ICOM Brasil firmou um compromisso de um ano com a RMK, traçando um plano de ação que, em 2024, será renovado por mais um ano. Ao todo, mais de 30 membros foram envolvidos, alcançando estudantes e profissionais de museologia negros, negras e negres.
Um dos maiores trunfos da colaboração é a doação por parte de membros individuais e institucionais do ICOM Brasil a integrantes da RMK, o que viabiliza o pagamento total ou parcial das anuidades desses integrantes junto ao ICOM. “No ano de 2023 foram subsidiados 12 membros da RMK. Para o subsídio do ano de 2024, um recurso financeiro maior foi arrecadado, o que possibilitou o subsídio da anuidade de 17 pessoas ligadas à Rede”, declara Luciana de Carvalho, vice-presidente do Comitê Brasileiro.
A oportunidade, em 2024, foi destinada a estudantes do sétimo ou oitavo semestre da graduação em museologia, de qualquer curso certificado pelo Ministério da Educação, ou vinculados a mestrados e doutorados na área, bem como pessoas museólogas que estejam sem vínculo empregatício. Um dos membros da RMK que integra o ICOM com o apoio dessa parceria é Rodrigo Gonzaga, doutorando em Sociomuseologia pela Cátedra UNESCO “Educação, Cidadania e Diversidade Cultural” na Universidade Lusófona, em Lisboa.
“Fazer parte do ICOM Brasil como membro da Rede de Museologia Kilombola, além de proporcionar uma visibilidade interessante para a prestação de serviços museológicos e incentivar o debate antirracista no campo dos museus, também nos mantém inseridos em importantes espaços de debate e atualização das normas profissionais que impulsionam o desenvolvimento de práticas e conhecimentos na comunidade museal”, relata o jovem.
Mais participação em Comitês Internacionais do ICOM
Outra frente de atuação prevista na cooperação foi a condução de conversas sobre os Comitês Internacionais (CIs) do ICOM, órgãos de atuação que debatem temas específicos relativos ao universo museal. De início, os membros da RMK selecionaram os seus Comitês de maior interesse. Dos 34 CIs, sete foram eleitos e pautaram encontros entre representantes do ICOM Brasil e da RMK: ICOFOM, CECA, AVICOM, CIDOC, ICMEMO, ICOM-CC e COMCOL. Além dos sete encontros on-line, que ocorreram entre setembro de 2023 e abril de 2024, houve um encontro de boas-vindas para uma apresentação geral sobre o ICOM com Adriana Mortara, diretora administrativa do ICOM Brasil.
Segundo a pesquisadora Silvia Pantoja, articuladora da RMK, os encontros foram importantes para os membros da Rede que já desejavam participar de alguns Comitês Internacionais. “Houve debates oportunos sobre os comitês e o campo de atuação na museologia”, explica. “Com estes encontros nossos membros conheceram mais sobre os Comitês Internacionais e suas atuações, facilitando a escolha do comitê votante e dos comitês de interesse, além de entender quais as possibilidades de colaboração entre os membros da RMK e os Comitês Internacionais do ICOM”, complementa.
O idioma e o emprego como ponte para conexões
No Plano de Ação da parceria foi possível prever a concessão de cinco bolsas de estudo para cinco membros da RMK pela Embaixada da França. O curso foi realizado no segundo semestre de 2023 por Aryane Peixoto, Carolina Teixeira, Edna Moraes, Lucas Souza e Lucas Lima. Para os participantes, a ação foi um avanço importante para a capacitação em uma língua estrangeira, mas, ao mesmo tempo, apresentou desafios.
“Algumas pessoas tiveram dificuldades de conciliar com as tarefas do dia a dia, porque é um curso que exige mais tempo de estudo. No Plano de Ação de 2024, queremos expandir essa iniciativa para o espanhol, fazendo mais networking com profissionais latino-americanos”, destaca Pantoja.
Ainda no âmbito de capacitação, outra atividade realizada foi a oficina sobre “Criação de Perfil no LinkedIn”, ministrada pela jornalista Renata Beltrão, do Museu do Futebol. A partir desse encontro, todos os perfis no LinkedIn dos integrantes da RMK foram divulgados no site do ICOM Brasil, para dar visibilidade aos estudantes e profissionais que compõem a Rede. “Era imprescindível que um plano de ação entre o ICOM Brasil e a RMK tivesse um eixo dedicado à empregabilidade, por sermos uma rede de profissionais de museus. Ainda, entendemos que precisamos reparar, historicamente, a partir da inserção efetiva e massiva de profissionais negros, negras e negres no nosso campo museal”, afirma a vice-presidente Luciana de Carvalho.
Mesmo com essas iniciativas, o novo Plano de Ação junto à RMK precisa incluir mais ações concretas de ofertas de oportunidades de emprego ou bolsas para seus membros. A avaliação dos integrantes sobre as ações relacionadas à empregabilidade foi positiva, mas poucas oportunidades concretas surgiram a partir delas. “Queremos focar projetos de carreira individual, mentorias personalizadas e networking. É importante ver resultados práticos, especialmente em relação ao caminho profissional e às oportunidades de estágio para os nossos membros”, defende Pantoja.
“Vemos na parceria com a RMK um elemento de aprendizado e mudança no ICOM Brasil na direção de, efetivamente, nos tornarmos mais diversos. Esse é só o começo”, complementa Carvalho.